
No processo de continuidade à compreensão das atividades realizadas pela Incubadora de Empreendimentos Sociais e Solidários (Incop), a seguir será apresentada mais um tipo de economia ligada aos diferentes empreendimentos que a Incop assessora. Vamos conhecer mais uma economia nessa série de informativos?
A Economia Popular
A economia popular sempre existiu a partir de contextos onde “os populares” utilizavam espaços geralmente “públicos” como ruas e praças e em muitos casos trabalhando de maneira informal e individualizada, ou seja, pequenos comerciantes em sua maioria de origens humildes. Mas, no final do século XX ela ganha destaque e olhares diante de uma promessa de sistema de bem-estar universal, contudo essa não era efetiva em países com contextos econômicos distintos dos chamados países desenvolvidos. Dentro de outra realidade, a América Latina apresentava apenas metade de sua população ativa vivendo do trabalho formal, indicando aspectos complexos do sistema capitalista.
Como forma de destacar questões negligenciadas pela visão econômica dominante a economia popular emergiu como uma abordagem de uma econômica alternativa, um reflexo das transformações estruturais do mercado de trabalho. Ela compreende um grande leque de iniciativas populares onde parcelas crescentes da população veio a depender de atividades assentadas no trabalho individual, familiar ou associativo envolvendo mesmo que de modo disperso e segmentado, um largo fluxo de produtos, serviços, processos de troca e mercados.
A proximidade conceitual com outros tipos de economia tem trazido grandes reflexões quanto a como diferenciá-la, estudiosos relatam que o que difere a economia popular das outras economias é o processo de institucionalização, já que para essa não houveram amarras institucionais (Estado, Governo, outras organizações, economias e até mesmo o mercado). Assim, as iniciativas populares persistiram se adaptando a culturas e meios sociais específicos e essa flexibilidade inclui a capacidade da economia popular de se adaptar às transformações recorrentes do padrão de acumulação no mundo.
Contudo, a economia popular tem lutado pelo reconhecimento, principalmente, do poder público, pois tem se destacado como uma forma de geração de milhares de postos de trabalho, caracterizando-a por atividades econômicas de base comunitária que buscam fortalecer as experiências e conhecimentos populares. De um lado pode se ver a economia popular como estratégia de sobrevivência, um simples amortecedor dos efeitos de crises, por outro é possível vê-la como propulsora de desenvolvimento social e econômico.
Muitos empreendimentos trabalham na lógica da economia popular, sendo detentores dos meios de produção, além de ter como sua riqueza a força de trabalho e a ânsia de viver, entretanto alia-se essa lógica a economia solidária, que possuem elementos agregados, como a cooperação, a colaboração, a coletividade, a reciprocidade, a articulação, a solidariedade, entre outros aspectos. Mas, há de se considerar que nem toda economia popular é solidária, justamente por não existir nela valores que caracterizam uma ação conjunta e solidária, uma cooperação mútua entre os envolvidos. A união dessas economias é trabalhada pela Incop, e fica claro ao momento que se cita a Feira de Economia Popular Solidária do Médio Piracicaba.
Diante da crise econômica do país e pelo nível de desemprego da região do Médio Piracicaba, criou-se em 2016, a Feira de Economia Popular e Solidária do Médio Piracicaba, unindo vários produtores e artesãos de João Monlevade e região movidos pela necessidade de geração de renda. A Feira tem por finalidade facilitar a comercialização de diferentes produtos, sejam provenientes de agricultura familiar, da união de artesãos, ou de trabalhadores individuais. Contudo, mesmo possuindo produtos fabricados de maneira individual, a Feira trata de uma organização coletiva dos trabalhadores que definem conjuntamente estratégias de comercialização.
Após a identificação de dificuldades de organização interna e até mesmo execução dos planejamentos dados e processos de formalização da Feira, o grupo de trabalhadores decidiram por dar início ao processo de incubação realizado pela Incop. Assim, a assessoria sociotécnica prestada tem auxiliado na gestão interna, efetivação de parcerias com órgãos municipais, elevação do quadro associativo, definição de locais fixos para a Feira e regularidade na sua execução, entre outros aspectos. Logo, vale ressaltar que a Feira de Economia Popular e Solidária ocorre mensalmente e o grupo junto com a incubadora tem buscado cada vez mais avançar seus trabalhos diante de um desenvolvimento sustentável e solidário.
Referências Bibliográficas:
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